A economia caboverdiana enfrenta desafios sem precedentes desde o início da pandemia no início de 2020. O encerramento de fronteiras e limitações impostas em quase todos os países do mundo reduziram de forma significativa a circulação de pessoas e mercadorias. Consequentemente, tanto ao nível local como internacional, as agências de viagens, os operadoras de turismo, as companhias aéreas, os hotéis, os resorts, os restaurantes, as lojas e até aeroportos correm o risco de encerramento permanente.
Numa pequena economia baseada em serviços, como é a de Cabo Verde, o impacto é bastante forte. Representando mais de 25 por cento do PIB de Cabo Verde e um dos setores mais dinâmicos na geração de empregos, as medidas de lockdown generalizado, em particular nos países europeus, causaram o encerramento quase total do setor do turismo e uma redução signicativa de atividade em vários setores da cadeia de valor, como os transportes, a distribuição, o agronegócio e diversos serviços.
Dados da Autoridade Aeroportuária apontam que, desde Março de 2020, Cabo Verde registou uma redução de 94 por cento nas chegadas de turistas. Com essa queda abrupta, 90 por cento dos hotéis fecharam as portas, causando layoffs em massa de trabalhores em todos os setores de atividade. Em consequência, as estimativas oficiais apontam para uma recessão económica em torno dos 11 por cento em 2020 e com uma taxa de desemprego superior a 20 por cento.
Perante esta situação muito precária, o sistema de segurança social, as medidas de proteção de rendimentos das famílias, de acesso à liquidez das empresas disponibilizadas pelo Estado e o aumento das remessas dos emigrantes sustentaram o consumo privado e tem sido fundamentais para o reinicio de atividade de determinados setores e a preparação das empresas e operadores do setor turístico para a retoma.
Os fortes pilares sociais, ambientais e económicos de Cabo Verde, associados à sua localização geográfica vantajosa, no meio de quatro continentes, colocam Cabo Verde em uma posição muito boa para uma rápida recuperação económica com a retomada da atividade económica global, em especial das viagens e turismo.
Economistas acreditam que as economias pequenas, abertas e baseadas em serviços serão as primeiras a aproveitar com a recuperação pós-pandemia. Com as taxas de infecção e mortalidade em tendência de queda desde o início de Fevereiro e aumento da vacinação em todo o mundo, Cabo Verde vê a luz no fundo do túnel e os operadores turísticos começam a preparar para a reabertura.
Desde o início da pandemia, o sistema de seguridade social assumiu uma parte importante dos custos do layoff. Por seu lado, com suporte de uma medida legislativa disponibilizado pele Estado, os bancos comerciais vem concedendo moratórias sobre os empréstimos, assim como novas linhas de crédito, apoiadas por garantias soberanas. No entanto, níveis baixos de procura, sobretudo interna, e os custos de manutenção durante a inatividade drenaram a liquidez das empresas, enfraqueceram seu balanço e posição de capital.
A capacidade das empresas em tirar partido da recuperação económica depende fortemente da sua recapitalização. Este cenário oferece excelentes oportunidades para veículos de investimento financeiro, como fundos de investimento, private equities e o capital de risco cuja entrada no capital de empresas com uma boa performance histórica pré-pandemia venha a permitir o reforço o capital, o de-risking das empresas e a sua preparação adequada para o aproveitamento das oportunidade de retoma económica.
Um das lições apreendidas definitivamente com esta crise é a de que Cabo Verde não pode hesitar mais na politica de diversificação da sua economia. Isso passa por contornar os desafios estruturais e infraestruturais ainda existentes em vários setores e que constituem, per si, oportunidades de negócio e de investimento. No setor do agronegócio, sobretudo o acesso e distribuição da água, o acesso à energia e a logistica de distribuição. No sector das pescas, a instalação de centros de recolha e armazenagem do pescado, a atividade de reparação naval e o fornecimento de materiais e equipamentos para a pesca. Estes dois setores tem à sua disposição um enorme mercado interno hoje ocupado por produtos substitutos importados de qualidade inferior e um mercado da diáspora quase desprovido da oferta nacional.
As oportunidades também se encontram na elevação da qualidade de gestão empresas públicas sistémicas para a economia nacional. Estas oportunidades emergem da concretização de processos de privatização de determinadas empresas e da privatização da gestão outras. Neste rol, estão importantes empresas do setor portuário, aeroportuário, imobiliária, energia, telecomunicações, banca, formação profissional, ensino superior, entre outros.
Esta retoma se prevê aportadora de oportunidades no setor imobiliário através da conversão de projetos imobiliários desenvolvidos para mercados esgotados, como a habitação, para o segmento empresarial onde existe uma enorme escassez de oferta. No setor do turismo, através da conversão de estabelecimentos para a oferta de produtos direccionados para novos segmentos emergentes como os remote workers. Na aviação, soluções de viagem mais económicas que permita uma maior frequência de viagens entre todas as ilhas para a satisfação da procura para trabalho, lazer, cuidados de saúde, eventos e visitas familiares. Nas telecomunicações, a oportunidade de extensão da rede de internet de modo a permitir a acesso à formação profissional e ensino superior online a partir de todas as ilhas do país.
Enfim, um mundo de oportunidades. Todavia, apenas a ambição e a persistência dos que acreditam, permitem transformá-las em realizações. Vamos a isto.
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